Para que uma Carta de Valores?

Certamente a grande maioria das pessoas que trabalham em empresas já ouviram falar desse tema. Os valores, princípios ou crenças de uma organização. Algumas vezes até já as viram estampadas nas paredes dos escritórios. Mas o que será que isso significa e qual seria o motivo de sua existência?

Uma primeira possibilidade, e a mais comum, é que se trata dos valores declarados pelos principais gestores das empresas. E parece que, ao publicá-los, esses gestores esperam que todos os cumpram, independentemente das crenças individuais de cada um. Na verdade é quase uma advertência, no sentido que quem não segui-los arrisca-se a ser mandado embora. Contudo, com esse formato, grandes questões se colocam. Como posso saber se cada um da empresa efetivamente acredita neles? Como posso garantir que todos cumpram o estabelecido? Eles valem para todos ou para uma parte da empresa? Valem também para os donos? E esses donos podem mudá-los a qualquer hora? Parece que não funciona na prática e fica claro que publicar valores achando que os outros vão cumprir é algo ilusório e contraproducente.

Outra possibilidade para a Carta de Valores é de caráter mais midiático e externo. Acredita-se que se o mercado souber dos valores de uma empresa pode ajudá-la a ser melhor percebida pelos seus clientes e, consequentemente, a vender mais seus produtos e serviços. Mas claro que, se esta for uma intenção consciente, é algo arriscado como aposta porque se não for acompanhado por atitudes consistentes o mercado perceberá muito rapidamente e o castigo pode ser cruel, com a perda de clientes. Se for um desejo de comunicar sinceramente crenças ao mercado, algo mais inconsciente, também é uma ilusão, porque nenhuma empresa pode garantir totalmente esta promessa. Os clientes preferem perceber os valores de uma empresa no seu relacionamento com ela, ao invés de declarações que parecem só querer seduzi-los.

Uma terceira possibilidade, e aí sim a Carta de Valores tem uma função essencial, é que seja utilizada para efeito interno, com a equipe. Algo que de fato seja apropriado pelas pessoas que trabalham na empresa, alinhada no entorno de valores que as façam funcionar de forma consistente e coerente. Esse tipo de olhar necessita que esses valores sejam uma criação conjunta, do grupo todo de pessoas, para que eles alinhem, entre si, quais são os valores que guiarão a relação entre eles. Assim esse grupo humano vai se aperfeiçoando através dos seus erros e, como um grupo integro, estará buscando entregas sinceras e verdadeiras, melhorando a experiência do cliente ao final da cadeia. Nesse caso, os valores são os meios pelos quais se faz um grupo ser mais integro, além de poder conter quaisquer crenças, já que não se pode julgar o valor do outro, como princípio. Se um grupo escolher mentir, por exemplo, como um valor deles, que assim seja, mas este grupo nunca poderá reclamar quando for vitima de mentiras. E essa inconsistência, percebida e alertada pelos líderes, é que fará o grupo crescer na direção da integridade. Simples assim.

Consistência e coerência, que compõem a integridade,  são as verdadeiras buscas quando se deseja formar equipes de alto desempenho. Nesse sentido, a finalidade maior da Carta de Valores é pôr à prova e ajudar a construir a integridade individual de cada pessoa da equipe. Isso sim constrói grupos humanos poderosos e não a moral estabelecida imposta por padrões externos.