O Conforto da Justificativa

Ahh justificativa! Essa palavra tão usada e abusada!! Por quem não a aceita e por quem a usa em seu proveito. E o que ela esconde, a quem ela serve?

Vamos começar por cada um de nós quando está frente a uma situação que não consegue resolver. Normalmente, qual o primeiro gatilho que se instala nesse momento? É o gatilho de como eu vou me livrar dessa, de como eu vou sair da pressão que eu vou sofrer por não ter cumprido o que se esperava de mim. E o nosso cérebro, tão poderoso, começa a trabalhar para encontrar essa saída, não a saída de resolver o problema inicial, mas sim de como resolver o problema de como eu posso sair da pressão, como eu posso convencer o outro que eu não tive como fazer o que eu disse que ia fazer para que todos saiamos felizes da história, mesmo com o problema original, com o qual eu tinha me comprometido, fique sem solução, rondando a todos como um fantasma.

Essa forma de colocar “proteção” como prioridade ao “compromisso” é quase cultural, de tão comum que aparece na cultura brasileira. E é importante saber que, embora profundamente humana, não é bem aceita em outras culturas, asiáticas ou europeias, além da americana. Nestas culturas, que não são perfeitas e que têm outros tipos de problemas, a justificativa é algo pouco aceito. No idioma inglês, inclusive, tem uma palavra “patronize” que significa ter pena ou querer dar conselho ao outro, o que é visto como algo muito negativo. Eu já ví, em inúmeros filmes americanos, a expressão “do not patronize me”, com rejeição ao que seria o outro se compadecer de mim, aceitar que eu tenho alguma razão em merecer pena por não entregar algo.

Então, pensando bem, a que serve a justificativa? Serve a um tipo de consolo, em querer que o outro se compadeça de mim e aceite a minha não entrega. É claro que problemas acontecem e que renegociações são necessárias. Mas a atitude de quem “continua no comando de si mesmo” é, de não aceitar “patronização” e de trazer junto a solução da não entrega e a renegociação dela, ao invés de implorar por pena por parte do outro e de se colocar como vítima.