O Seu Melhor

Definitivamente somos seres singulares. Cada um de nós é exclusivo na sua condição humana: corpo, mente, experiências, desejos, ancestralidade, e por aí vai. Mas, ao mesmo tempo, somos gregários, nos agrupamos, utilizando os conceitos mais variados: crenças, origens, objetivos, etc. E, no esforço de nos sentirmos parte desse grupo, parece que vamos aos poucos abrindo mão de nossas singularidades, querendo ser cada vez mais parecidos com os outros como se, para sermos aceitos, é necessário vender a nossa alma. E o que isso tem a ver com o mundo empresarial?

Com toda a mudança que vem ocorrendo no mundo, e nas empresas por consequência, a estrutura de comando e controle que sempre definiu as relações no mundo empresarial, está tendo de mudar de tom. Não funcionam mais incentivos extrínsecos, dos mais variados tipos, como carreira, benefícios, cargos e outros elementos que sempre funcionaram para fazer uma equipe performar. Claro que existe a expectativa das pessoas de terem segurança no seu trabalho, de terem perspectivas de aumento de remuneração, de serem lembrados em promoções, etc. Isso é muito legítimo, com certeza. Contudo, espera-se que esses estímulos tragam algo precioso para as empresas atuais: a criatividade. Sem ela hoje as empresas tendem a morrer muito rapidamente. E essa criatividade esperada necessariamente vem de elementos intrínsecos: significado no que faz, poder influenciar nas decisões e autonomia de fazer do jeito que quiser. E esses três elementos podem ser combinados numa receita única por cada um de nós, que responda às nossas singularidades muito pessoais.

E aí aparece a pergunta: como posso dar o meu melhor para uma empresa que persegue a criatividade como busca gerencial? Uma boa fórmula, que não gera cansaço, desgaste, e que faz a pessoa crescer pode ser entregar para a empresa o que de mais autêntico ela possui: suas forças e fraquezas, suas angustias, seu querer e sua singularidade. Pode até parecer estranho que o seu melhor não seja uma competência técnica, necessária sem dúvida, mas elas não são o seu melhor. Ela tem um limite, e também são utilizadas por cada um de acordo com a predisposição mental de quem as possui, o que dita as regras de como serão usadas. Sem dúvida é preferível alguém autêntico, mobilizado por si mesmo, e que busca competências quando as necessita, do que alguém com muitas competências, mas limitado por seu desejo de agradar, por exemplo. Ser o que se é ajuda na construção do todo, cada um nas suas características, contribuindo à sua maneira para o resultado da empresa.

Em lugar de estruturas rígidas, controladas e comparativas, coloca-se no lugar uma estrutura leve e colaborativa, que valorize as diferenças e que também possua, claro, ótimas competências, que serão muito melhor usadas se as singularidades técnicas e emocionais de cada membro do grupo forem levadas em conta e valorizadas.

Tem uma crença antiga que diz que “admite-se uma pessoa pela competência e demite-se pela atitude”. Que tal ter um empreendedor interno, admitido pela sua atitude e singularidade e que vai atrás de competências, quando necessárias?